terça-feira, 22 de novembro de 2011

Me perdoe, Marcelo! Conto#2

 -Eram quase que inseparáveis, bem estranho, não é? Dois garotos assim, dormem no mesmo quarto, vivem no mesmo apartamento, nunca entra mulher lá... Acho esquisito que aquele loirinho tenha saído de lá chorando semana passada, depois disso seu Júlio nem saiu mais, tentei bater na porta, mas ele não atende, é por isso que eu liguei pra vocês. Eu não tenho mais as chaves, seu Júlio pediu para dar pro loirinho. Tem como você arrombar a porta ou coisa parecida, seu polícia?
-Calma, eu já abro a porta. 
-Tudo bem, senhor.
-Qual é o nome do tal loirinho?
-Marcelo, o nome dele é Marcelo.
-Hum...
-O senhor vai abrir a porta ou não?
-Sim, sim! Espere apenas um segundo!
 O policial bate novamente na porta, espera alguns segundos.
 Silêncio.
-Sai de perto que eu vou arrombar.
-Uhum.
 O policial abre a porta e encontra Júlio, um jovem não muito bonito, pardo, de cabelos lisos e estatura bem elevada, magro, deitado no chão da sala, de olhos arregalados e secos com o telefone mudo nas mãos.
-Puta que pariu! O moleque tá morto?
-Calma, não sei ainda. é melhor que você saia e eu te chamo se precisar.
-Mas seu polícia...
-Meu nome é, sargento Antonio, merda! E não teima comigo! Sai daqui agora!
-Tá.
 Antes que João pudesse chegar no hall, o policial o chama novamente:
-Seu João! Vem aqui! O garoto tá respirando!
 O porteiro estava atônito, sem pestanejar retirou o telefone do bolso e ligou para a emergência.
-Oi, oi, oi... Aqui quem fala é... É o Jão, João! Porteiro do residencial Santa Helena. Tem... Tem um morador aqui, ele não está bem, preciso de uma ambulância! A rua é... É... É... A Leonildo Fontes, segunda torre... O Número? É... É... 2870! Dois, oito, sete e zero! Zero, sete e zero! O apartamento é no 27ª andar... Número 241, é. Dois, quatro, um! Eu não sei o que ele tem, moça! Dá pra vir rápido? Vou esperar no hall. Não demora, moça!
 Júlio parecia vegetar, ao seu lado, sobre a braçadeira do sofá haviam: Quatro copos, todos pela metade com Uísque, uma garrafa de Chivas Royal Salute, também pela metade, e em sua mão esquerda, estava, junto ao telefone uma cartela vazia de Rivotril. Ao chão, além de alguns comprimidos, havia urina e cacos de vidro. O cheiro era insuportável.
 Minutos depois chega a emergência, os dois já haviam levado Júlio para o hall por conta própria. Júlio andava com muita dificuldade e foi até o elevador apoiado pelos ombros do policial, e do porteiro quase anão. Quando chegaram no hall de entrada do prédio, a emergência estava parada, os enfermeiros saíam de lá e preparavam a maca. Vendo que Júlio estava sendo trazido à eles, apenas a desacoplaram da traseira do veículo. Uma enfermeira saiu da parte do banco do motorista e começou a brigar com os dois -O que há de errado com vocês? É perigoso forçar a locomoção de um paciente sem saber seu estado clínico! Podem agravar a situação! Sabem o que isso signific...
-Vai calar a boca ou quer levar um murro?- Disse o policial, visivelmente alterado. A garota entrou na traseira da ambulância e e abriu o oxigênio.
-Rápido! Rápido! Deitem-no!
-pronto! Aqui está! Agora é seu!
-Eu vou ter que ir na delegacia, seu polícia?
-Vai. Me acompanhe. Está com os documentos?
-Não, senhor.
-Aonde você mora?
-Na primeira torre, debaixo do salão de festas.
-Eu te acompanho até lá. Podem levar o rapaz!
Sob olhos assustados, e o sol escaldante de Curitiba às três horas da tarde, a ambulância sai do condomínio, furando aquele imenso bloqueio de curiosos que se formara no local. Júlio foi levado ao hospital Jerônimo Torres, hospital do qual era cliente há anos, segundo disse o porteiro. Chegando lá, o garoto foi rapidamente atendido, foi constatado que ele havia sofrido uma quase overdose por remédios.
 -Júlio nunca tomou sequer um Rivotril! E agora ele enfia logo uma cartela goela abaixo! -Dizia o doutor Ksumanoto, enquanto retirava a cartela vazia das mãos frias do garoto.
-Como você sabe que nunca? -Pergunta a enfermeira.
-Porque sou amigo do pai dele, fui pediatra, urologista e clinico geral deste menino.
-entendi...
-Muito obrigado... Celina! Pode ir agora, Júlio está em boas mãos.-disse o médico em um tom sarcástico, talvez se referindo ao cargo em hospital público que a moça ocupava.
-Não posso sair sem RG, dados clínicos do paciente. 
-Ah, mil desculpas, Celine! Já te dou os documentos dele, aguarde um estante apenas, sim?
-É Ce-li-na! Aguardarei pelos dados no guichê de informações da recepção. Seja rápido, não tenho tempo.
-Sim. Boa tarde!
 Já passavam das 18 horas e Júlio se encontrava consciente, estava assistindo televisão apenas como que se para iluminar sua íris. Estava alheio à tudo e todos. Seus pais não foram encontrados e, uma agenda havia sido encontrada queimada sobre a mesa de centro.
 -O que aconteceu, seu Michel? Por quê eu tô aqui? Cadê o... Cadê meu Marcelo? 
O doutor Michel Ksumanoto estava sem entender nada. Júlio havia se levantado da maca, estava de pé, com aquela horrível roupa esverdeada, todo urinado e perguntando sobre esse tal de Marcelo.
-Calma, Julinho, calma! Quem te deu permissão pra levantar? Deita-te e espera a chegada da enfermeira para que sejas trocado! Teus pais vão pegar um voo essa noite para o Brasil. Foram contactados assim que você deu entrada no hospital. Quem é Marcelo?
-Não quero meus pais aqui. Posso ir pra casa! Quero ver o Marcelo de volta! Marcelo é meu... Era, era meu... Meu namorado, doutor.
-Mas precisa! Está sozinho! Seus pais vão voltar ainda hoje de Dubai, agora acalma-te e me conta que historia é essa de namorado Marcelo!
-Doutor, você me conhece desde criança, sabe que eu sou gay, eu nunca escondi isso de ninguém. Marcelo... Marcelo é meu amor... Íamos nos casar mês que vem... Mas... Mas... Porra! Eu caguei com a minha vida e nem pra acabar com ela eu servi!
-Calma, Júlio. Tá tudo bem. Depois falamos mais disso e você me conta sua historia, pode ser?
-Eu preciso de calmantes, doutor!
-Não, você quase morreu por tomar calmantes! Você precisa ser trocado e descansar. Vou mandar a enfermeira te vigiar a noite toda. 
 Assim que o médico saiu, Júlio foi ao banheiro, chegando lá passou alguns segundos se olhando no espelho. 
-Por que você não me perdoou, Marcelo? Por quê?! Por que eu errei com você, Marcelo?
 Júlio senta-se ao chão escorado na parede e começa a chorar. Acorda algum tempo depois, liga a TV e olha pela janela, adormece.
Continua...

A segunda parte dessa história vocês conferem em um próximo post! Não percam esta emocionante trama!



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